Série: Oito Folhas, Oito Páginas Desassossegadas
Abri o Livro do Desassossego, justamente a cada passo acabo sempre por lá pousar. Trouxemos as palavras para a tela, em forma de textos manuscritos. Esta ideia de se poder construir um livro no território pictórico foi absolutamente extraordinária, a par de outra peculiaridade de Fernando Pessoa, o poder de criar personagens heteronímias, como o seu semi-heterónimo Bernardo Soares.
"Neste mundo ainda não perdemos a necessidade de imaginar", como nos diz Bernardo Pinto de Almeida, nesse sentido apropriei-me de Bernardo Soares, (segundo Pessoa, o autor do Livro do Desassossego), que partilhou comigo os seus textos e eu com ele a pintura. Poder-se-ia dizer que nesta série: Oito Folhas, Oito Páginas Desassossegadas, criamos um coletivo. Organizamos os textos, construímos a paleta, por fim assinamos e datamos as telas. E ainda que a data se distancie cerca de um século, afinal, o que é um século traduzido em tempo!? Se "diante da imagem estamos diante do tempo", como diria Didi Huberman, acrescentando que "diante de uma imagem – por muito antiga que seja – o presente nunca cessa de se reconfigurar".
Com efeito, esta reflexão culminou num conjunto de oito trabalhos, produzidos a óleo s/ tela de linho de 92x73cm cada.