O desenho
O desenho revelou-se como uma importante ferramenta teórico-prática que muito auxiliou no desenvolvimento do projeto, capacitando-me na resolução e desmultiplicação de um vasto leque de possibilidades, através do qual, a experimentação e a desfragmentação do objeto, abriram um abundante número de caminhos exploratórios. Pela intervenção de esquissos e esboços, chegamos a vários ensaios e resultados.
A primeira possibilidade, a que nomeamos desenho semi-cego, consistiu na inscrição consecutiva do poema, sobre uma folha de papel químico, num ato de exaustão. Inesperadamente, quando retiramos o papel químico, surgem palavras em forma de imagem. O papel químico funciona aqui como uma camada opaca, uma fronteira entre o riscador e a folha de desenho, impedindo o olhar de ver qualquer marca que daí resulte.
A possibilidade seguinte foi construída por carvão e grafite em pó, sobre papel previamente impregnado em óleo de papoila. Este processo conduziu-nos ao universo das palavras, o que foi absolutamente fascinante. Construídas pela justaposição de camadas de grafite, absorvidas por um breve instante em óleo, assinalando as marcas de memória como um vestígio transitório, que se confunde no tempo.
Por fim, o último processo ou possibilidade trata de entrar num novo território, o do próprio suporte das palavras – o papel –, onde estas se inscrevem, desconstruindo o objeto através do desdobramento do papel da suposta carta, o que resultou numa folha de papel pautada, marcada por vincos e pela passagem do tempo.
